Quem toca piano sob a chuva,
na tarde turva e despovoada?
De que antiga, límpida música
recebo a lembrança apagada/
Minha vida, numa poltrona
jaz, diante da janela aberta.
Vejo árvores, nuvens, - e a longa
rota do tempo, descoberto.
Entre os meus olhos descansados
e os meus descansados ouvidos,
alguém colhe com dedos calmos
ramos de som, descoloridos.
A chuva interfere na música.
Tocam tão longe o turvo dia
mistura piano, árvores, nuvens,
séculos de melancolia...
- Cecília Meireles, In Mar Absoluto.
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