segunda-feira, 8 de agosto de 2011

SURDINA

Quem toca piano sob a chuva,
na tarde turva e despovoada?
De que antiga, límpida música
recebo a lembrança apagada/

Minha vida, numa poltrona
jaz, diante da janela aberta.
Vejo árvores, nuvens, - e a longa
rota do tempo, descoberto.

Entre os meus olhos descansados
e os meus descansados ouvidos,
alguém colhe com dedos calmos
ramos de som, descoloridos.

A chuva interfere na música.
Tocam tão longe o turvo dia
mistura piano, árvores, nuvens,
séculos de melancolia...
- Cecília Meireles, In Mar Absoluto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário