quinta-feira, 31 de março de 2011

CHOVE...

Chove. Há silêncio,porque a mesma chuva
não faz ruído com sossego.
Chove. O céu dorme
quando a alma é viúva.

Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(nem parece nuvens) que parece.

Que não é chuva,mas um sussurrar
que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.

Chove longínqua e indistintamente,
como uma coisa que nos minta,
como um grande desejo que nos mente
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa.

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